9 de março de 2013

O último fim do mundo

Da última vez que o mundo acabou
O fim Levou
-Me daqui
Praí.

Foi tão anunciado
Que eu esperava algo como um terremoto,
Um furacão.
Ao menos uma ventania.

Mas foi mais parecido com uma brisa
Escorrendo pela janela
Tranquila
Fazendo-me contorcer de arrepio.

Corria-se
Nem para nem contra o grand finale.
Corríamos
Buscando a corrida.

E o fim do mundo se instalou
Dentro de mim.


16 de janeiro de 2013

Uníssono






Bem ao centro de um grande salão
- No vazio do centro -
Dança um metrônomo
Equilibrado e previsível.
É é ele,
Bailarino,
Quem compõe a valsa.

Dita o andamento,
Para outros dois instrumentos.
Dissonante. Tá
Ressonante.Tá
Tá, tá
Tá, tá

Estranho a melodia nova.
Atrapalho-me com tuas pernas.
Tropeço nos meus pés,
E caímos em falso no ar.

Já não sabemos
O próximo passo.

Desvencilhamos os corpos
Do balé compassado
E não paramos
Nunca paramos a dança
Curiosos
Por não saber como desliga
Ou quem acionou
A pulsação daquele aparelho
Batendo...
Batendo...

5 de novembro de 2012

Intertextual


Amigos, não consulto mais os relógios.
Por que em seu lugar, na parede, 
Agora há um imenso buraco.
Uma ausência
Reveladora de sujeira e mofo.

Se fosse eu
Que um dia me fosse de vossas vidas,
Eu deixaria que os ponteiros aqui permanecessem.
Não para consultar as horas,
Mas parados
Para nos dar a eternidade inteira.







28 de outubro de 2012

Para que Leve




Leve embora com você
Um pedacinho meu
Que é seu.
Um pedacinho meu
Que é sua
Propriedade
Responsabilidade.
Leve embora para a sua casa
E frite no jantar.
Faça o que quiser
Fazer.
Mas leve embora com você
Um pedacinho do meu coração
Que é seu.
Um pedacinho áspero
Necrótico
Obliterado.
Um pedacinho preocupado do meu coração.
Leve um pedacinho inteiro do meu coração
Pesado.
Um pedacinho pesado do meu coração inteiro.

Leve.



24 de outubro de 2012

Soma

será o cessar da saudade
a subida da serra
- ser-r-ar
carta soprada sob a cútis
- es-cut-ar
o silêncio soturno
sinuoso e incerto
mas seguro
do cessar fogo
e recesar 
retesar saturno
ser saturno
Ceu e Ar





17 de outubro de 2012

O Visitante Real



As aves assanhadas da madrugada
Esperam todas no portão
do Leste
E anunciam
Gralham
Matraqueiam
O aparecimento do Sol.
Ele toma rápido
Seu posto no céu
Despretensioso.
Até um pouco desanimado.

Mas hoje é Sertão.
E, embora as queimaduras
Expostas da terra,
Feridas abertas
Onde terá que se pisar,
O Sertanejo agradece
E fica feliz em ver a vossa Alteza.

As plantas fervem
As aves e os bichos fogem.
As fissuras se aprofundam
No lugar infértil
Nada dura.
E a culpa
É do Sol
Ou do Chão?

O Sertanejo não sabe.
Ele pensa.
Acha que é dele.
E agora se penaliza, o homem
Por ter feito a Dança da Chuva
Por ter desejado a Chuva.





Lamento em ré


A luz inunda,
Cega a casa
Contrariando o meu humor.
Eu me desespero.
Leio o horoscópo,
Ouço músicas cafonas.
E mato o tempo
rodando de cubículo em cubículo
Só para ter certeza
Daquilo que eu já sei.

Que você não vem.

Não, a estupidez é minha, Alcione.
O cafona sou eu.

30 de janeiro de 2012

Agrotóxico

Colhi o meu morango mais promissor
Meio maduro, meio verde
E o preguei na parede
De presente para você,

Que o olhou, se emocionou,
Agradeceu e se virou.
Foi embora.
E o morango apodreceu.

Se o tivesse apreciado, realmente,
Teria o comido
Profanado a minha arte, se deliciado.
E, como fizeste com a minha carne, talvez,
cuspido fora.

Envio meus agrotóxicos para Strawberry Fields Forever.
E por consequência,
Alimento-me hoje apenas de amendoim e cinzas de incenso.

4 de janeiro de 2012

No more divas

Você permaneceu naquela posição por um tempo infinito
Para mim, faltou ainda dar alguns retoques.
Sujei minhas mãos de vermelho-sangue
Com as tuas cores
Com o teu negro e o amarelo (do teu sorriso amarelo)!
Gastei todas as minhas tintas
com você.
Todo o meu vocabulário.
- Ei, não se mova!
Eu devia imaginar que musas do teu feitio
Não sabem posar
Para um poema.


20 de setembro de 2011

Gato Noturno

No jardim vazio o gatinho se move
Para a frente
De vagarinho
Irreversível.
Ele salta no escuro
No meio das folhagens
E, todo dramático,
Mata a sede numa poça d'água.

A língua, ferina, áspera
mas pequeninha,
o entrega:
é a única coisa que foge
da sua atitude de agente secreto.

Eu estou cultivando um Gregor Samsa em mim

Eu estou cultivando um Gregor Samsa em mim.
Meu primeiro exoesqueleto.
Uma carapaça dura
E tosca
Que cobre meus braços, minhas mãos
E sei que também meu rosto... Tudo.

Você irá dizer que é auto-proteção,
mas isto é tão dolorido quanto as cascas
que recobrem as feridas.
- E para quê mais elas serviriam?

Sinto que esse vigoroso material está cada vez mais grosso.
Exfoliar, nessa altura, seria um retrocesso.
Quando atingir sua máxima rigidez
Tudo rachará e cairá
Como um ovo que trinca para revelar um dinossauro
Ou uma ema.

15 de setembro de 2011

Insetos na luz

Era o último óscar
Inovador.
Ótima fotografia.

E voavam algumas mariposas na sala de projeção.

Ora verdes, ora azuis,
[Elas que deveriam ser tão marronzinhas]
Coloriam-se contra a luz do filme.

Folhinhas de outono que
Pairam no ar
Caindo eternamente.

Imagens holográficas
De um filme que era 2d.

Fiquei o tempo todo obcecado
Tentando prestar atenção na história
E sem tirar os olhos daqueles bichinhos.

Eu não sabia se mais me alegravam com o voo
Ou irritavam com a impertinência.

No final das contas,
Perdi o final feliz.
Minha companhia foi embora,
me achou meio ausente.

Mal sabia ela que era eu
Quem mais estava alí.

22 de julho de 2011

Monotom

Fui enquadrado
E catalogado.
Predestinado
A ser um eterno cretino.
Desculpe a sinceridade,
Mas nem me abriram!
Mal me examinaram!
Creio ter direito a um julgamento.
Cadê meu acusador?
Revirem meus bolsos,
Procurem meus mortos aqui no meu paletó.
Investiguem meu passado
Virem-me do avesso!

Adoraria ser humilde,
Mas sou obrigado a me delatar.

Talvez pior que ser subestimado
Seja ser enformado,
Reduzido a uma empada.

16 de julho de 2011

De profundis


Acordei agorinha
De um coma profundo
E induzido
Sugestionado
Por um levantar de sobrancelhas.

Um iceberg na testa que me fez hibernar
Afundar
Tecer um casulo
Pra me entrar pra dentro de mim
E me trancar.

Mas, glória!, terminou meu pesar.
Abro os olhos
Submerjo.
Voltei mais feio e pessimista que uma lagarta
Mais festivo que um urso polar
da coca-cola.


26 de junho de 2011

Frio de lá



Quero estar bem longe quando chegar o inverno.

Vou me refugiar no frio de lá

Que tem uma frieza diferente –

Uma quentura mais quente.


Lá tem chão de madeira,

Chiado de chaleira,

Fogo no fogão, na lareira

Lá tem pinhão.


Tem de manhã cedinho

Bicicleta na rua

E no finzinho do dia

Um restinho de lua.


Tem amigo na varanda contando bobagem

Tem poejo.


Lá, só o termômetro passa frio.

20 de junho de 2011

Poema para aniversário de mãe distante




Toda vez que eu dobrava aquela camisa
Vinha o vento pela janela
E, sorrateiro,
Atirava-a no chão.
Uma lufada certeira
Como um gato que pula na cama,
Depois pula na mala
E leva embora uma peça para aquecer seu ninho.

Ficamos naquela disputa ainda por algum tempo
Eu tentando me despedir
E o gato-vento
Me pedindo para ficar.

O nome desse gato é Mãe.

14 de junho de 2011

Poema-Caneca


De tudo o que já experimentei nessa vida,

O teu café foi a bebida mais forte.

Quase no ponto.

Nem espresso, nem passado

Solúvel: presente.

Um gosto amargo na língua, doce nos olhos, salgado na pele.

Sequei a xícara em três goles.

[Pensei que fosse uísque -

Um legítimo cauboi]

E já levemente embriagado

Eu pedi mais.

27 de abril de 2011

Café lavado

Acho que tem sabão no meu café
Está doce!
A caneca é grande...
Ela me olha
Com aquele olho negro
Que eu às vezes eu penso engolir.
E ainda há tanto café!

Acho que caiu um pouco de sabão no meu olho
Está doce,
Insuportável!
Mal posso enxergar.
Gostaria que visse como é verde minha íris
Mas meu olho se fechou.

A caneca agora está aqui, vazia
Não fui eu, não.
Foi meu olho.
Eu nem gosto de café.

18 de maio de 2010

Não deixe sua bicicleta montar em você

Mesmo tendo sido abandonado há quase 1 ano, o blogdeGaragem recebeu alguns visitantes e até comentários nos últimos meses. Fiquei muito feliz. Resolvi voltar - mais uma vez!
Muita aconteceu comigo nesse período. Resumindo, meu cachorro morreu, ganhei outro, da mesma raça e com a mesma cor - chamado Horácio, viajei para Fortaleza com planos de fixar residência mas não deu certo, abandonei minha facul de biomedicina em Santa Maria-RS e agora estou em Curitiba cursando odontologia. Ah, voltei a fazer teatro!
Curitiba me inspirou a cometer um ato de insanidade. Aqui tudo é evoluído. A cidade é toda pensada para reduzir o impacto ambiental e facilitar a mobilidade. É, não foi do nada que eu tive a ideia de comprar um bicicleta. Tudo me estimulava a fazê-lo. As pessoas na rua, o saco que é pegar onibus - por mais que aqui seja um sistema muito bom -, a ciclovia que tem da minha casa até a facul, a capa do meu caderno com um ciclista, reportagens falando dos prazeres de pedalar e dos benefícios, etc.
Comprei a bicicleta pela intenet. Ainda nem comecei a pagar. Fiquei dias numa ansiedade até recebê-la. DES-MON-TA-DA. Fiquei mais alguns dias ansioso enquanto ela ficava na oficina. Detalhe: eu levei a caixa enorme de 20 kg até a oficina no muque. Outro detalhe: a oficina fica a 4km da minha casa. Eu parava de poste em poste para descansar. A caixa rasgou. Larguei ela em cima de cocô de cachorro e acabei sujando minha roupa. Foi um horror. Levei duas horas. E a bike lá dentro, nem rangia, como se quisesse demonstrar que não tinha culpa - mas bem que tava gostando!

Hoje a bonita está aqui em casa. E daqui de casa ainda não saiu. Eu esqueci o quanto chove nessa cidade!
Ela vai ficar mal acostumada...

20 de junho de 2009

Classe baixa faz reinvindicação

"Pobres de nós, menos favorecidos, por termos de suportar todo esse peso!
Somos usados em todo tipo de trabalho. Somos forçados contra todo tipo de solo.
E nem por isso você olha por onde anda.
Temos que "tatear" o chão como ceguinhos sem bengala, arriscando encontrar terrenos acidentados, pedras, materiais cortantes e sujeira.
Ah, e como é angustiante quando você não enxerga aquele degrau - sempre ele!
Estamos preparados para dar mais um passo! E... quando o fazemos... ele nao termina... afunda. Caímos. É um choque!
Sem falar da proteção que você nos fornece: estes sapatos apertados e de péssimo gosto.
É isso o que recebemos por te levar para todo lado e por te equilibrar na mureta da calçada: ingratidão e mais ingratidão.
Você só sabe elogiar as mãos... falar de como elas são ágeis e produtivas... de como elas são sincronizadas! E de nós você lembra?
Ultimamente não temos tido muita frieira, mas nossos calcâneos estão quase à mostra de tão rachados que estamos.
Evitamos falar aqui de chulé, umidade e joanetes para não nos tornarmos desagradáveis.
Sorte que você é um homem. Não suportaríamos sapatos de salto!

Só queremos que você olhe um pouco para nós, converse e nos trate melhor... Talvez um pouco de contato direto com uma graminha macia aos domingos...
Óra! Somos pés, mas temos sentimentos, ok?"

8 de maio de 2009

Bigornada do mês

E a Bigornada do Mês vai para... Sim, ela! YEDA CRUSIUS!

Obviamente que a nossa governadora está recebendo tal condecoração tardiamente. Porém, como só bolei a idéia da bigornada do mês agora, nada mais justo do que ELA ser a primeira homenageada.
Apresentarei meus motivos:

1) Yeda se mostrou incapaz de dialogar com o seu próprio vice. Ela e Paulo Feijó trocaram farpas publicamente. Um belo início de governo.
2) Vários secretários do seu governo foram exonerados por envolvimento com corrupção e desvio de dinheiro público, gerando uma baita crise política que continua se estendendo. O uso de estatais para o financiamento de campanhas eleitorais foi descoberto através de grampos telefônicos da Polícia Federal.
3) Aumentou seu salário em 144%.
4) Mas, para compensar, demitiu centenas de funcionários públicos.
5) SUCATEOU a educação do estado fechando escolas, aumentando para até 50 alunos em cada sala de aula, impossibilitando o controle de uma turma por parte do professor e prejudicando o aprendizado. Tudo isso para não contratar novos professores.
6) Planejou uma reformulação no plano de carreira dos professores, tirando benefícios e alterando o piso salarial nacional para TETO MÁXIMO ESTADUAL.
7) As explicações da governadora ao Ministério Público de Contas sobre a compra de uma casa foram consideradas insuficientes para esclarecer o negócio. Yeda declarou ter comprado a casa por R$ 750 mil em dezembro de 2006 - valor superior ao da declaração de bens que apresentou antes da campanha (R$ 674 mil). O rolo envolveu o Banrisul, que só cobrou a dívida contra Eduardo Laranja da Fonseca, que vendeu uma casa a Yeda, depois que o escândalo veio à tona e se tornou foco da crise política.
8) Yeda está massacrando os movimentos sociais. Quer acabar com as escolas itinerantes do MST, reconhecidas a nível nacional como um projeto social de qualidade. Não soube dialogar com os professores e outros servidores públicos. Mandou a Brigada Militar reprimir manifestantes com violência.
9) É arrogante. Na foto em destaque, ela fez sinal para que os professores em frente ao palácio se calassem!!!! Provou que nao sabe valorizar a profissão e que a educação não está entre as suas prioridades. Desmereceu as reinvindicações dos docentes; foi estúpida.
10) Yeda não entendeu que está a frente de um governo, e nao de uma empresa. Existe algo além do controle das finanças do Estado. Existe a vida dos gaúchos. Hello, Yedinha!
Não é pelo fato de ser mulher ou de não ter nascido gaúcha. Pelo contrário. Não tenho nada contra isso. A questão é que Yeda provou que NÃO SABE GOVERNAR.
Queremos alguém que represente e defenda as massas e não os interesses dos gigantes. Queremos alguém que faça bem ao nosso povo.


Somos obrigados a aturar o resto de um governo fadado ao fracasso?

Se alguém lembrar de mais algum motivo... comenta ai ;)