28 de outubro de 2012

Para que Leve




Leve embora com você
Um pedacinho meu
Que é seu.
Um pedacinho meu
Que é sua
Propriedade
Responsabilidade.
Leve embora para a sua casa
E frite no jantar.
Faça o que quiser
Fazer.
Mas leve embora com você
Um pedacinho do meu coração
Que é seu.
Um pedacinho áspero
Necrótico
Obliterado.
Um pedacinho preocupado do meu coração.
Leve um pedacinho inteiro do meu coração
Pesado.
Um pedacinho pesado do meu coração inteiro.

Leve.



24 de outubro de 2012

Soma

será o cessar da saudade
a subida da serra
- ser-r-ar
carta soprada sob a cútis
- es-cut-ar
o silêncio soturno
sinuoso e incerto
mas seguro
do cessar fogo
e recesar 
retesar saturno
ser saturno
Ceu e Ar





17 de outubro de 2012

O Visitante Real



As aves assanhadas da madrugada
Esperam todas no portão
do Leste
E anunciam
Gralham
Matraqueiam
O aparecimento do Sol.
Ele toma rápido
Seu posto no céu
Despretensioso.
Até um pouco desanimado.

Mas hoje é Sertão.
E, embora as queimaduras
Expostas da terra,
Feridas abertas
Onde terá que se pisar,
O Sertanejo agradece
E fica feliz em ver a vossa Alteza.

As plantas fervem
As aves e os bichos fogem.
As fissuras se aprofundam
No lugar infértil
Nada dura.
E a culpa
É do Sol
Ou do Chão?

O Sertanejo não sabe.
Ele pensa.
Acha que é dele.
E agora se penaliza, o homem
Por ter feito a Dança da Chuva
Por ter desejado a Chuva.





Lamento em ré


A luz inunda,
Cega a casa
Contrariando o meu humor.
Eu me desespero.
Leio o horoscópo,
Ouço músicas cafonas.
E mato o tempo
rodando de cubículo em cubículo
Só para ter certeza
Daquilo que eu já sei.

Que você não vem.

Não, a estupidez é minha, Alcione.
O cafona sou eu.