20 de setembro de 2011

Gato Noturno

No jardim vazio o gatinho se move
Para a frente
De vagarinho
Irreversível.
Ele salta no escuro
No meio das folhagens
E, todo dramático,
Mata a sede numa poça d'água.

A língua, ferina, áspera
mas pequeninha,
o entrega:
é a única coisa que foge
da sua atitude de agente secreto.

Eu estou cultivando um Gregor Samsa em mim

Eu estou cultivando um Gregor Samsa em mim.
Meu primeiro exoesqueleto.
Uma carapaça dura
E tosca
Que cobre meus braços, minhas mãos
E sei que também meu rosto... Tudo.

Você irá dizer que é auto-proteção,
mas isto é tão dolorido quanto as cascas
que recobrem as feridas.
- E para quê mais elas serviriam?

Sinto que esse vigoroso material está cada vez mais grosso.
Exfoliar, nessa altura, seria um retrocesso.
Quando atingir sua máxima rigidez
Tudo rachará e cairá
Como um ovo que trinca para revelar um dinossauro
Ou uma ema.

15 de setembro de 2011

Insetos na luz

Era o último óscar
Inovador.
Ótima fotografia.

E voavam algumas mariposas na sala de projeção.

Ora verdes, ora azuis,
[Elas que deveriam ser tão marronzinhas]
Coloriam-se contra a luz do filme.

Folhinhas de outono que
Pairam no ar
Caindo eternamente.

Imagens holográficas
De um filme que era 2d.

Fiquei o tempo todo obcecado
Tentando prestar atenção na história
E sem tirar os olhos daqueles bichinhos.

Eu não sabia se mais me alegravam com o voo
Ou irritavam com a impertinência.

No final das contas,
Perdi o final feliz.
Minha companhia foi embora,
me achou meio ausente.

Mal sabia ela que era eu
Quem mais estava alí.